Nesta época do ano, os peixes e mariscos ganham destaque. Os alimentos aquáticos enfeitam as mesas e contribuem com proteínas, ácidos graxos, ômega-3 e micronutrientes essenciais — elementos-chave para a alimentação e a nutrição. No entanto, esse consumo sazonal não se traduz em um hábito permanente. Enquanto a média mundial de ingestão de alimentos aquáticos é de 20,7 kg per capita por ano, na América Latina e no Caribe consome-se, em média, apenas 10,7 kg — uma das médias mais baixas do mundo.
Essa lacuna revela um desafio urgente: é preciso repensar como integrar os alimentos aquáticos nas dietas da população para ampliar sua contribuição à segurança alimentar e nutricional na região. Isso é ainda mais relevante quando consideramos que esses alimentos representam o sustento de milhões de famílias pescadoras e aquicultoras na América Latina e no Caribe.
Para isso, é necessário desenhar políticas que incentivem seu consumo, atualizar os marcos normativos, fortalecer as cadeias de valor, aprimorar a vigilância sanitária e promover o uso responsável dos recursos naturais. Além disso, é fundamental garantir que esses produtos sejam acessíveis para as populações mais vulneráveis.
O consumo de alimentos aquáticos contribui para reduzir a pressão sobre os sistemas agroalimentares. Também ajuda a enfrentar os efeitos relacionados às mudanças climáticas, por exemplo, por meio da aquicultura sustentável, que apresenta uma pegada ambiental menor.
Para avançar nesse desafio, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) promove a Transformação Azul — um processo abrangente que busca maximizar a contribuição dos sistemas alimentares aquáticos para uma produção mais sustentável, preservando a biodiversidade para as gerações futuras.
Com a plena implementação dessa agenda, estima-se que o consumo per capita global possa ultrapassar os 25 kg até 2050, com impactos positivos sobre a nutrição infantil e a saúde pública.
A agenda da FAO com o Brasil nos permite seguir impulsionando a Transformação Azul e antecipar temas-chave para os diálogos técnicos que ocorrerão em junho de 2025, no âmbito da XIX Reunião da Comissão de Pesca em Pequena Escala, Artesanal e Aquicultura da América Latina e do Caribe (Coppesaalc), organizada pela FAO.
Governos, setores social e privado, organizações, academia, consumidores e outros parceiros devem se unir para desenvolver e implementar estratégias que incentivem o consumo de alimentos aquáticos — por exemplo, incorporando esses produtos em programas sociais, como o de alimentação escolar, além de comunicar amplamente os benefícios de seu consumo.
A Transformação Azul é o caminho para uma melhor produção, uma melhor nutrição, um melhor meio ambiente e uma vida melhor — sem deixar ninguém para trás.
*Javier Villanueva é Oficial Sênior de Pesca e Aquicultura da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para a América Latina e o Caribe
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