O mês de maio foi marcante para a avicultura mundial, em especial para a brasileira: pela primeira vez na história foi registrada uma ocorrência de influenza aviária de alta patogenicidade em granja comercial no Brasil. Principal exportador de carne de frango do mundo, avançando a olhos vistos nas exportações de ovos comerciais e de genética avícola, o país é uma potência na produção de derivados avícolas, além de ser a referência mundial quando o assunto é sanidade animal.
Quando se trata de carne de frango, o Brasil é particularmente relevante. Nos últimos dois anos o país foi capaz de exportar mais de 5 milhões de toneladas anualmente, e já representa em torno de 40% da corrente de comércio global. Os protocolos sanitários firmados pelo Brasil com seus parceiros comerciais vislumbram em algumas oportunidades a suspensão de todos os produtos de origem avícola do país, não só o embargo dos produtos avícolas oriundos do estado epicentro do problema, ou mesmo do munícipio em que aconteceu o foco da doença.
China, Filipinas, África do Sul e União Europeia têm em seus protocolos sanitários o fechamento de todos os produtos brasileiros de origem avícola. Sob o prisma da carne de frango, esses países representam em torno de 25% das exportações brasileiras, o que sem dúvida gera transtornos nas mais diferentes esferas.
Para mitigar os efeitos do embargo, o país adota uma postura combativa em todos os ângulos possíveis. Do ponto de vista de mercado, busca a regionalização dos embargos com seus principais parceiros comerciais. O processo de renegociação se acelera conforme o país segue à risca todas as etapas desde o registro do foco da doença, restando apenas o encerramento do prazo de vazio sanitário (18 de junho).
Nesse processo de renegociação conta a favor do Brasil a ausência de substitutos à altura. A Tailândia apresenta expansão de suas exportações no período; no entanto, o país asiático não conta com a escala de produção necessária para substituir o Brasil por um período mais extenso.
O que se relata é o processo inflacionário no mercado internacional, algo previsível diante da ausência, mesmo que parcial e temporária, do principal exportador de carne de frango. Outra estratégia, adotada para mitigar os efeitos dos embargos no Brasil, é a estocagem de produto em câmaras frias e em contêineres frigoríficos. Essa manutenção por si só já representa um importante adicional de custos para o setor, no entanto, evita quadros nocivos de excesso de oferta no mercado doméstico.
Mesmo com essa estratégia, alguma oferta adicional é disponibilizada no mercado doméstico, o que produziu queda dos preços, tanto do frango vivo, quanto do frango abatido no atacado. No estado de São Paulo, principal centro consumidor do país, esse movimento é bastante perceptível.
Do ponto de vista da biosseguridade todas as etapas foram seguidas à risca – o aumento da testagem no país mostra isso com muita clareza. Felizmente para a avicultura mundial as possibilidades de um novo episódio de influenza aviária de alta patogenicidade em granja comercial são remotas, considerando o término do período de migração das aves, que retornam ao hemisfério norte para a primavera/verão.
Além disso, precisa ser mencionado que há toda uma “blindagem” nas granjas comerciais brasileiras, que dificulta esse tipo de ocorrência, uma vez que as granjas são teladas, há controle de pessoas e de veículos e até mesmo o abastecimento de água é de fontes diferentes daquelas que abastecem a população.
O foco da doença registrado no munícipio de Montenegro, no Rio Grande do Sul, parece exceção, e não a regra para o Brasil.
O Brasil conduz a situação de maneira exemplar, não deixando dúvidas para o restante do mundo, sanidade animal é assunto sério e o país está preparado para qualquer evento de ordem sanitária. A operação de guerra que foi montada para suplantar o problema, sempre com muita transparência, passa serenidade para os parceiros comerciais do Brasil.
O ponto central é que o país precisa renegociar seus protocolos sanitários e conseguir a regionalização dos embargos. Diante de toda a seriedade brasileira na condução do problema, além da importância do país na segurança alimentar de inúmeras populações ao redor do mundo, a mudança dos protocolos é algo imprescindível, para não produzir distorções no mercado global, além de potencial desequilíbrio mercadológico para o principal exportador do mundo.
Essa premissa é válida para todas as proteínas de origem animal exportadas pelo país.
*Fernando Henrique Iglesias é coordenador do departamento de Análise de Safras & Mercado, com especialidade no setor de carnes (boi, frango e suíno)
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