Durante o Fórum Ministerial China-CELAC, realizado em Pequim, hoje, dia 13 de maio, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping apresentaram um discurso afinado contra o que denominaram como “bullying” e “hegemonismo” dos Estados Unidos. Em um cenário global tensionado por guerras comerciais e disputas geopolíticas, os dois líderes reforçaram a importância da cooperação entre países em desenvolvimento e criticaram com veemência a adoção de tarifas unilaterais por parte de Washington.
Xi Jinping foi direto ao afirmar que o protecionismo norte-americano “leva ao autoisolamento” e que “não há vencedores em guerras tarifárias”. O líder chinês reiterou o compromisso de Pequim com o multilateralismo e a ampliação dos laços com América Latina e Caribe. Para ele, o momento exige diplomacia e abertura, e não imposições.
Lula, por sua vez, destacou que “a imposição de tarifas arbitrárias só agrava a situação do comércio global”, e defendeu que a América Latina não deve repetir os erros da Guerra Fria. “Não queremos nos tornar palco de disputas entre potências”, declarou. O presidente brasileiro aproveitou o encontro para convocar os países da região a investirem em infraestrutura com apoio chinês, citando projetos de rodovias, ferrovias, portos e linhas de transmissão como fundamentais para o desenvolvimento sustentável.
Além das declarações políticas, o encontro ocorreu dias após Estados Unidos e China anunciarem uma trégua tarifária temporária — um acordo de 90 dias para reduzir mutuamente algumas tarifas, numa tentativa de distensionar o cenário econômico global. Mesmo assim, tanto Lula quanto Xi Jinping demonstraram desconfiança quanto à estabilidade desse acordo, alertando para a volatilidade da política externa norte-americana.
A retórica de Lula e Xi não é isolada. Outros líderes latino-americanos, como Gustavo Petro (Colômbia) e Gabriel Boric (Chile), também têm se aproximado da China, numa clara tentativa de diversificar suas relações comerciais e reduzir a dependência de mercados dominados pelos EUA. Essa movimentação sinaliza uma mudança importante na geopolítica regional, com a América Latina buscando maior autonomia e inserção em uma ordem mundial multipolar.
No campo prático, o fortalecimento da parceria sino-brasileira deve gerar impactos concretos para o agronegócio e para a indústria de base do Brasil. Com apoio chinês, é possível destravar investimentos em infraestrutura que há décadas emperram a competitividade brasileira. No entanto, a cautela é necessária: Lula alertou que os projetos precisam ter viabilidade econômica e não podem se transformar em “elefantes brancos”.
O recado foi claro: Brasil e China querem redesenhar o tabuleiro global com base na cooperação Sul-Sul, rechaçando imposições e abrindo espaço para novas formas de desenvolvimento compartilhado. Resta saber se os Estados Unidos saberão ouvir o alerta ou insistiram em políticas que os isolem cada vez mais no cenário internacional.
Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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