Um ano após a tragédia no RS, produtores rurais estão esquecidos

estrago enchente Rio Grande do Sul - maio 2024
Fotos: Canal Rural

Passado um ano da maior catástrofe climática da história recente do Rio Grande do Sul, o Brasil parece ter virado a página — mas não os gaúchos. Para milhares de produtores rurais que resistiram heroicamente a três secas consecutivas e foram, logo depois, arrasados por enchentes devastadoras, a dor permanece crua, viva e — pior — ignorada.

As imagens de lavouras submersas, casas destruídas e famílias desalojadas comoveram o país. Mas a comoção não se transformou em ação. Promessas do governo federal inundaram os discursos, mas não chegaram à terra. O que chegou, para muitos, foi a falência. Estima-se que as dívidas dos produtores rurais gaúchos ultrapassem R$ 100 bilhões. E enquanto a conta cresce, o crédito some. Sem acesso a financiamento, sem garantias, sem estrutura, milhares estão abandonando o campo e migrando para a rede de proteção social — algo que, para quem sempre produziu com as próprias mãos e com o suor do rosto, é um golpe na alma.

Propriedades que tinham um valor alto por hectare não valem nem 10% e áreas ociosas, antes arrendadas, se multiplicam por regiões produtivas importantes. E talvez o mais preocupante: o psicológico abalado que tem elevado índices de suicidio no meio rural. O próprio estado depende do agronegócio para se manter economicamente saudável e viável. 

O setor primário acumula cerca de 40% da fatia do PIB gaúcho e nas pequenas cidades chega a ser 80% ou mais. Uma roda que gira quando o produtor faz compras em agropecuárias, supermercados, lojas de roupas. Uma roda que só gira se tiver recurso para investir na propriedade e esta lhe gerar lucro para gastar na cidade.

É cruel ver que o mesmo produtor gaúcho, que um dia subiu em caminhões e desbravou o Cerrado para transformar o Centro-Oeste na maior fronteira agrícola do mundo, agora mendiga atenção do Estado. Esse mesmo povo, que sempre respondeu com trabalho à adversidade, agora se vê às margens de um sistema que só o aplaude quando convém politicamente — mas que vira o rosto quando precisa agir com responsabilidade, reconhecimento e justiça.

O abandono do produtor rural do Rio Grande do Sul não é apenas uma falha de política pública. É uma traição moral. É esquecer quem alimenta o Brasil, quem gera riqueza, quem sustenta empregos. E, acima de tudo, é ignorar a história de um povo que sempre esteve à frente, nunca à margem.

É hora de o país acordar. O Rio Grande do Sul não precisa de discursos. Precisa de crédito, de infraestrutura, de apoio psicológico, de reconstrução. Precisa de ação. O Brasil deve isso aos gaúchos. Por moral. Por reconhecimento. Por justiça.


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